sexta-feira, 15 de março de 2013

Bons Fluidos


Nas atividades petrolíferas, os fluidos de perfuração tem a mesma importância que o sangue em nosso corpo, ou seja, são fundamentais!

Eu adoro correlacionar a linguagem complexa do petróleo com a simplicidade do nosso cotidiano, isso torna meu aprendizado mais fácil e acabo fixando os assuntos com maior qualidade.

Nas minhas pesquisas sobre os fluidos de perfuração encontrei uma citação do geólogo Eugênio Pereira que deve ‘sofrer’ da mesma mania que eu... sua descrição sobre os fluidos ao meu ver se transformou em uma verdadeira poesia..

 “O fluido de perfuração é como o sangue: flui, transporta, cicatriza, transmite força, estabiliza as pressões internas, enfim, perpassa todas as etapas da sondagem como se fosse a extensão viva do ato de perfurar.”

Precisa de mais alguma explicação? Hehehe

Voltando a parte acadêmica da coisa, fluido de perfuração ou lama de perfuração (que os químicos não nos ouçam!) é uma mistura complexa de sólidos, líquidos e até mesmo de gases, podendo assumir aspectos de suspensão, emulsão ou dispersão coloidal. Assumem também comportamentos de fluidos não-newtonianos, ou seja, a relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação não é constante.

Pelas veias do sistema

Os fluidos são injetados por bombas, passando pelo interior da coluna de perfuração através da cabeça de injeção (swivel) e saindo pelos jatos da broca, incidindo diretamente sobre a rocha. Retorna à superfície pelo espaço anular, chegando até a peneira vibratória, para a separação dos sólidos perfurados, após esta etapa o fluido é resfriado e passa por tratamentos específicos, para ser novamente reutilizado.

Percurso do Fluido de Perfuração durante a perfuração de um poço.

Funções
Vou resumir em três funções vitais: 
  1. Limpar o fundo do poço carreando os cascalhos gerados pela broca até a superfície.
  2.   Exercer pressão hidrostática sobre as formações, de modo a estabilizar as paredes do poço e evitar influxos indesejados de fluidos (kicks).
  3.  Resfriar e lubrificar a coluna de perfuração e a broca.


 Aferindo a Pressão

Para manter a estabilidade do poço é preciso ficar de olho na Pressão Histrostática (do fluido) e na Pressão da Formação (do reservatório).



* Ph = Pf => Equilíbrio desejável, mas perigoso.
* Ph < Pf => Podem ocorrer desmoronamentos, estreitamento do furo e kick.
* Ph > Pf => Situação normal para estabilização do furo.
* Ph >> Pf => Danos à formação pelo excesso de pressão do fluido, o reservatório absorve o fluido, podendo ocorrer fraturamento da formação e fugas de fluido com perdas de circulação.


“Fator Rh+”

Além das funções que os fluidos devem desempenhar, eles ainda devem satisfazer as seguintes características:
  • Ser estável quimicamente.
  • Estabilizar as paredes do poço.
  • Facilitar a separação dos cascalhos em superfícies.
  • Manter os sólidos em suspensão.
  • Aceitar qualquer tratamento físico e químico.
  • Apresentar baixa taxa de corrosão e abrasão.
  • Facilitar interpretações geológicas do material retirado do poço.
  • Ser tixotrópico, isto é, o fluido assume um estado de semi-rigidez quando parado (parecido com um gel) e retorna a fluidez quando posto novamente em movimento.
Esta última característica é fundamental para manter os cascalhos em suspensão quando a atividade de perfuração estiver pausada, evitando que eles decantem no fundo do poço novamente.


“Tipos Sanguíneos”

Os fluidos de perfuração são classificados de acordo com o seu constituinte principal.

Base Água
A água será a fase contínua do fluido e pode ser:
- doce (salinidade < 1000 ppm NaCl )
- salgada (salinidade > 1000 ppm NaCl)
- dura (rica em Cálcio e Magnésio)

Quando escolher o Fluido à base de água?
-Disponibilidade
-Custo de transporte e tratamento
-Geologia das formações a serem perfuradas
-Composição química dos aditivos do fluido
-Equipamentos e técnicas a serem utilizadas na avaliação das formações.

Os fluidos à base de água são divididos em:
-Fluidos não-inibidos = empregado na perfuração das camadas mais superficiais, composta na maioria das vezes de sedimentos inconsolidados (que não sofreram muita compactação).

-Fluidos inibidos = utilizados para perfurar rochas com elevado grau de atividade na presença de água doce.

Grau de atividade - Uma rocha é dita ativa quando interage quimicamente com água, tornando-se plástica, expansível ou até mesmo solúvel.

Água mole em pedra argilosa tanto bate até que incha!

Em reservatórios com presença de argila, deve-se evitar perfurar com fluido a base de água, pois a argila incha na presença de água e consequentemente o espaço poroso diminui podendo causar a perda de circulação do poço.

Base Óleo
Devido ao alto custo inicial e grau de poluição, são empregados com menor frequência do que os fluidos à base de água.

Características do fluido à base de óleo:
- Grau de inibição elevado em relação a rochas ativas.
- Baixíssima taxa de corrosão.
- Propriedades controláveis na faixa de 170°C até 260° C.
- Grau de lubricidade elevado.
- Amplo intervalo de densidades 0,89 a 2,4.
- Baixíssima solubilidade de sais orgânicos.

Estas características conferiram excelentes resultados na perfuração dos seguintes poços:
- Poços HPHT (alta pressão e alta temperatura).
- Formações de folhelhos argilosos e plásticos.
- Formações salinas de halita (quando o poço não estiver contido numa área de preservação ambiental que proíbe o uso de fluidos sintéticos).
- Poços direcionais, delgados ou de longo afastamento.
- Formações com baixa pressão de poros ou de fratura (Próximo Post!).

Algumas desvantagens do fluido à base de óleo em relação ao fluido à base de água:
- Dificuldade de detecção de gás no poço devido a sua solubilidade na fase contínua.
- Menores taxas de penetração.
- Maior grau de poluição.
- Dificuldade de combater a perda de circulação.
- Maior custo inicial.

Base Ar
Na perfuração com fluidos à base de ar, o gás ou ar, como todo ou parte, é usado como fluido circulante na perfuração rotativa e possuem aplicação em alguns cenários que exijam a aplicação de fluidos de baixas densidades.

Aplicações do fluido à base de ar:
- Zonas com perda de circulação severa.
- Formações com pressões muito baixas ou susceptíveis a danos.
- Formações muito duras, como basalto.
- Regiões de escassez de água ou glaciais.
- Limitado a formações que não produzam água ou óleo.



Fontes: Fundamentos da Engenharia de Petróleo, Prof°. Luiz Eduardo Trindade, Prof°. Ana Catarina.

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